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Levantamento internacional mostra que impactos ambientais podem prejudicar o desempenho agrícola e o crescimento econômico

Um relatório da organização não governamental Planet Tracker demonstrou o impacto direto do desmatamento na agricultura brasileira. Segundo o estudo, o desflorestamento para criar novas áreas para agricultura e pecuária tem alterado o regime de chuvas no Brasil e pode reduzir a eficiência da produção brasileira – hoje largamente apoiada em um regime de plantio de duas safras ao ano.

A instituição – que é especializada em analisar riscos relacionados a questões ambientais – explicou que a consequência do desmatamento chega até investidores em títulos soberanos do Brasil e em ações e dívidas de empresas brasileiras. Segundo a Planet Tracker, uma redução da produção brasileira tem impacto direto nas exportações e no Produto Interno Bruto do país, o que aumenta o risco dos investimentos.

O estudo “Sem Chuva na Planície – Desmatamento Ameaça a Exportação Agrícola Brasileira” analisou dados climáticos e apontou, por exemplo, que uma alteração já afeta a produção agrícola em Rondônia.

“Evidências recentes sugerem que a temporada de chuvas está mudando nas áreas desmatadas da Amazônia. No Estado de Rondônia, o início das chuvas mudou, em média, 11 dias, nas últimas três décadas. No entanto, onde o desmatamento pesado não aconteceu, o início das chuvas não teve alteração significativa”, aponta o relatório.

Uma das principais razões de o Brasil ser hoje uma das potências mundiais no mercado agrícola é a capacidade do país de ter duas, às vezes até três safras anuais. Em 2018, as safras de soja e milho, alternadas nesse regime, foram responsáveis por 2,6% do PIB brasileiro e representaram um quinto das exportações brasileiras, segundo o estudo.

Porém, pesquisadores alertam que a capacidade de ter mais de uma safra depende largamente do regime de chuvas. Atrasos no início das chuvas podem levar à impossibilidade de plantio de uma segunda safra. Em uma fazenda de tamanho médio no Mato Grosso, um dos maiores produtores de soja e milho no país, isso poderia representar a perda de 1/3 da renda anual.

“O impacto da redução da quantidade de chuvas no rendimento das colheitas é óbvio. Além disso, se a duração da estação chuvosa é reduzida, então o tempo para uma segunda safra amadurecer é reduzido, com mais impacto negativo no rendimento das colheitas”, detalha o estudo da Planet Tracker.

Em outro ponto, o relatório também indica que as receitas de exportação dos principais exportadores de milho e soja do país – Mato Grosso e a região do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecida como Matopiba – pode desabar cerca de US$ 2,1 bilhões até 2050. Esse valor equivale a 6% das receitas de exportação de soja e milho em 2018.

Os autores alertam, ainda, que o estudo não considera um cenário de não retorno. Nessa situação, cientistas apontam que uma redução de 20% a 25% na área atual da Amazônia poderia causar uma alteração em que a região deixaria de ser uma floresta tropical. O cenário considerado no estudo foi apenas de mudanças no regime de chuvas, considerando o ritmo de desmatamento até o momento.

O que altera o cenário de chuvas, mostra o estudo, é a chamada evapotranspiração – que consiste na evaporação de água do solo para a atmosfera, de cursos d’água e da própria vegetação, e que retorna em forma de chuva. A falta de cobertura vegetal no cerrado e na Amazônia diminui essa evaporação e impacta diretamente na quantidade e no calendário de chuvas brasileiro, como já foi demonstrado por cientistas nacionais em outros levantamentos.

Ironicamente, o processo de desmatamento para aumentar a produção agropecuária pode trazer exatamente o resultado contrário: mais áreas e menos produção, impactando as exportações brasileiras e deteriorando os resultados das empresas do país.

Em sua conclusão, o relatório alerta que “investidores em títulos soberanos estão em risco, assim como os investidores em ações e dívidas de empresas de toda economia brasileira”.

“Em uma situação em que o desmatamento continue, não apenas os padrões de chuva e as temperaturas provavelmente serão alteradas, mas também tendem a se tornar menos previsíveis e mais extremas, e empurrar o ecossistema do Brasil perigosamente para mais perto de potenciais pontos de inflexão muito prejudiciais para o clima e a economia do país”, argumenta o estudo. “Para o produtor rural e o setor do agronegócio de forma mais ampla, essa combinação será muito desafiadora – os riscos que enfrentam aumentarão significativamente, sem qualquer aumento nos retornos potenciais. Essas novas características de mercado irão chegar também aos investidores.”

O relatório também lista ações possíveis aos investidores para reduzir impactos e perdas econômicas. Entre elas, está a de unirem-se à iniciativa de fundos de investimento para aumentar a pressão sobre o governo brasileiro, incluindo o Congresso Nacional, para rever medidas que permitem o aumento do desmatamento. Da mesma forma, recomenda-se pressionar as empresas brasileiras em que fazem investimentos para que adotem medidas de desenvolvimento sustentável.

A Frenlogi acredita que o desenvolvimento econômico mundial precisa respeitar as normas ambientais e promover sustentabilidade. É impossível dissociar atualmente o respeito ao meio ambiente e o progresso das relações comerciais brasileiras.

Justamente por isso, a Frente trabalha pela maior adesão a fontes alternativas de produção de energia – como a eólica e a solar –, além de ser defensora do desenvolvimento de modais de transporte mais baratos e eficientes, a exemplo das ferrovias e hidrovias. Os frutos disso não se resumem ao cuidado com o meio ambiente. Adotar práticas sustentáveis de produção é uma exigência básica dos maiores mercados consumidores do mundo, como o europeu e o asiático.

Portanto, é necessário trabalhar duro para que a economia brasileira esteja em sintonia com as melhores práticas sustentáveis do mundo. É uma questão de sobrevivência – tanto comercial quanto a do próprio ser humano.


Fonte: Portal Terra.