Maior incerteza recai sobre a estação chuvosa do próximo ano. Acionamento de térmicas e regras flexíveis de nível mínimo das hidrelétricas devem ser mantidos para garantir fornecimento.
Apesar da melhora no nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas nos últimos meses, a volta das chuvas não deve ser suficiente para garantir um 2022 livre de preocupações no setor elétrico. O Ministério de Minas e Energia e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) acreditam que os próximos 12 meses continuarão demandando atenção e medidas excepcionais para garantir o fornecimento de energia no Brasil.
Em nota, o MME afirmou que a situação de atenção com o fornecimento de energia vai prevalecer, e o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) manterá seu trabalho de acompanhamento permanente em 2022 para evitar racionamentos e apagões.
“Todas as ações tomadas são respaldadas por estudos prospectivos elaborados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico e pelo acompanhamento das demais medidas excepcionais em curso, que são fundamentais para a garantia da segurança do atendimento ao Sistema Interligado Nacional, especialmente, para 2022”, completou o ministério.
Para o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, a maior incerteza para o próximo ano recai sobre a estação chuvosa. As chuvas começaram no tempo previsto, em outubro, e as afluências (quantidade de água que chega às usinas hidrelétricas) estão na média histórica. Entretanto, há incerteza sobre o volume das chuvas até abril – quando começa o período seco no país.
“A estação chuvosa das bacias [hidrográficas] situadas no subsistema Sudeste/Centro-Oeste constitui o período de maior incerteza de previsão, tendo em vista a grande variabilidade observada no histórico para a precipitação nessa região, tanto em volume como na distribuição espacial”, explica Ciocchi.
Por essa razão, o executivo afirma que o ano de 2022 exigirá atenção e manutenção de algumas das medidas emergenciais adotadas neste ano. “Essa recuperação [dos reservatórios] irá depender não só da configuração de um período chuvoso relativamente bom, mas da avaliação da manutenção de algumas flexibilizações, além da utilização de [usinas] térmicas, o que nos permite estocar água”, prevê o diretor-geral do ONS.
O ponto positivo nessa balança é a previsão de entrada de 15 gigawatts de energia de novas usinas – valor que corresponde a 8% da capacidade instalada do Brasil – e de 16 mil quilômetros de novas linhas de transmissão (o equivalente a 10% da capacidade instalada atualmente).
Termelétricas seguirão ligadas
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), defende que as usinas termelétricas permaneçam ligadas para garantir o fornecimento de energia no próximo ano. As termelétricas são bem mais caras e poluentes que as hidrelétricas – características que manterão as tarifas de energia em um patamar elevado.
“Se o governo não quiser ter emoções maiores em 2022, as térmicas não podem ser desligadas nem agora, no período chuvoso. Apesar de em abril entrar em funcionamento as usinas [hidrelétricas] de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, é mais seguro deixar, no mínimo, oito giga, dez gigawatts de térmicas operando para encher os reservatórios. O que vai dar para fazer é desligar as térmicas mais caras, de R$ 2 mil o megawatt/hora”, analisa o especialista.
Para reduzir o custo de geração de energia, o Governo Federal limitou o acionamento de usinas termelétricas em dezembro a, no máximo, 15 mil megawatts (MW) médios, incluindo eventual importação de energia do Uruguai e Argentina. Não havia limite até então, e o operador do sistema podia acionar a quantidade necessária para garantir o fornecimento de energia ao país.
Em agosto e setembro, por exemplo, o país gerou 19 mil MW médios de energia térmica – valores recordes para a série histórica, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico.
Melhora das condições
Os reservatórios das usinas hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste — considerado a “caixa d’água” do setor elétrico – terminaram novembro com volume de 19,7%, segundo o ONS. Esses números são melhores que os analisados em novembro de 2020 (17,7%) e superiores à previsão feita em junho deste ano, quando o ONS esperava fechar novembro com 10,3% da capacidade. Se confirmada, essa previsão seria o pior nível já visto em 20 anos.
Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a recuperação parcial dos reservatórios ocorreu graças a um conjunto de ações, fatores climáticos e econômicos:
• acionamento de todas as usinas térmicas disponíveis;
• importação de energia da Argentina e do Uruguai;
• flexibilização das restrições hidráulicas (para estocar mais água nos reservatórios);
• flexibilização dos sistemas de segurança das linhas de transmissão (para transferir mais energia do Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste e Sul);
• início da estação chuvosa em outubro e dentro da média histórica;
• temperaturas amenas no segundo semestre, o que evitou picos de uso de energia; e
• economia cresceu menos do que se imaginava no início de 2021.
Apesar da melhora, Adriano Pires diz que o nível dos reservatórios é preocupante e que o Brasil precisará de anos para chegar a uma recuperação integral. “Terminar o ano em nível de 20% não é um número que tranquiliza, então, em 2022, a gente vai continuar tendo emoções no setor elétrico. Temos que esperar pra ver como vai ser essa chuva no período úmido para saber se começamos o período seco, em abril, com níveis adequados [de armazenamento]”, avalia o especialista. Para ele, é fundamental que os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste estejam em pelo menos 30% em abril para não trazer riscos de fornecimento de energia.
O ONS projeta que os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste chegarão ao final do período úmido (março/abril) com 30,7% de armazenamento, para o cenário baseado nas chuvas do biênio 2020/2021; e com 43,8% de armazenamento no cenário baseado nas chuvas do biênio 2017/2018.
A Frenlogi trabalha para garantir eficiência e segurança energética ao Brasil. O atual nível dos reservatórios de usinas hidrelétricas do país obriga a tomada de ações emergenciais e mudança no comportamento de consumo. Governo Federal, estados, municípios, consumidores residenciais, industriais e comerciais precisam agir agora.
No Congresso Nacional, a Frente trabalha para aprovar legislações que facilitem a geração de energia por pequenas usinas e produtoras regionais. Em dezembro, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei 5829/2019 (que cria o Marco Legal da Geração Distribuída) com apoio da Frenlogi. A Frente também atuou para destinar mais recursos públicos em obras de infraestrutura que gerem mais energia elétrica ao Brasil.
Entretanto, também é preciso usar melhor a capacidade já existente. Economizar energia, trocar eletrodomésticos por versões mais eficientes e mudar hábitos de consumo são ações valiosas para reduzir a conta de luz e poupar o meio ambiente.
Fonte: Portal G1