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A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, presidida pelo senador Wellington Fagundes (PL-MT), presidente da Frente Parlamentar Mista de Infraestrutura e Logística (Frenlogi), debateu nesta quarta-feira (23), em audiência pública, os impactos e a constitucionalidade da Moratória da Soja, bem como a suspensão da Lei nº 12.709/2024 do Estado de Mato Grosso (MT) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Durante a reunião, foram discutidos os efeitos da moratória sobre os produtores rurais, a economia local, a segurança jurídica e a soberania nacional.

A Moratória da Soja busca impedir a aquisição de soja cultivada em áreas desmatadas do bioma Amazônia após 2008, mesmo que a conversão tenha ocorrido em estrita observância às leis nacionais. O acordo tem gerado controvérsias quanto à sua legalidade e aos impactos econômicos para os produtores rurais, especialmente em Mato Grosso.

Em resposta às restrições impostas pela moratória, o Estado de Mato Grosso promulgou a Lei nº 12.709/2024, que proíbe a concessão de benefícios fiscais a empresas signatárias de acordos comerciais que imponham limitações à expansão da atividade agropecuária em áreas não protegidas e que ampliem desigualdades sociais e regionais. No entanto, em dezembro de 2024, o ministro do STF, Flávio Dino, suspendeu a referida lei, ao atender a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 7774), movida por um partido político que alegou sua inconstitucionalidade.

A audiência contou com a participação de deputados federais e estaduais de Mato Grosso, prefeitos, produtores, consultores legislativos e técnicos.

A reunião foi dividida em dois blocos. No primeiro, compuseram a mesa de debates: o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Max Russi; o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), André Dobashi; o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Meloni Nassar; o chefe substituto da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Marcos Adami; e a deputada estadual de MT, Janaína Riva.

No segundo bloco, participaram: o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Fabrício Morais; o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Beber; o consultor jurídico da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Frederico Favacho; o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de MT (Famato), Vilmondes Tomain; o deputado estadual e autor da lei, Gilberto Cattani; e a deputada federal Juliana Kolankiewicz (MDB-MT).

O debate

A primeira a discursar foi a deputada estadual Janaína Riva (MDB-MT), que afirmou que a lei trata exclusivamente da política de concessão de benefícios fiscais pelo Estado, e não diretamente da Moratória da Soja.

André Dobashi, da CNA, criticou o acordo, destacando a ausência de participação dos produtores rurais em sua formulação. Segundo ele, o pacto cria uma “legislação paralela” que penaliza aqueles que cumprem o Código Florestal.

O pesquisador Marcos Adami, do Inpe, apresentou dados técnicos sobre o monitoramento do desmatamento e esclareceu que o instituto apenas realiza o mapeamento, não tendo competência para definir a legalidade das áreas desmatadas.

Durante o debate, o senador Jayme Campos (União-MT) cobrou propostas objetivas. Já André Meloni Nassar, da Abiove, defendeu ajustes na moratória e uma solução conciliatória, ressaltando que o mercado internacional rejeita soja cultivada em áreas desmatadas da Amazônia.

Fabrício Morais, presidente da Aprosoja Brasil, afirmou que a moratória fere a soberania nacional e a liberdade econômica dos produtores, estimando um impacto de R$ 20 bilhões em receitas. E o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Beber, criticou o poder de normas privadas sobre a legislação ambiental brasileira, destacando que empresas signatárias da moratória dominam mais de 94% do mercado comprador de soja no país.

O presidente da Assembleia Legislativa de MT, deputado Max Russi (PSB-MT), defendeu a lei estadual como forma de valorização do produtor e de reciprocidade frente a exigências externas.

Ao encerrar a audiência, o senador Wellington Fagundes reafirmou a importância de garantir segurança jurídica aos produtores e defendeu a continuidade do debate no Congresso Nacional. Ele agradeceu a participação dos convidados e informou que a comissão consolidará as contribuições em um relatório.

“Foi um debate extremamente importante, que mostra a necessidade de buscarmos um caminho de equilíbrio entre produção e preservação, mas com respeito à legalidade e aos direitos do produtor rural brasileiro”, declarou Fagundes.

📺 Assista à audiência sobre a Moratória da Soja no YouTube