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O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa, embarcou para a China junto com a ministra do Planejamento, Simone Tebet –  como parte da comitiva liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tebet prometeu trazer “boas notícias” para o setor de infraestrutura, com destaque para a atração de capital estrangeiro. Segundo a ministra, as rotas de integração sul-americanas, que conectam o Brasil a portos no Pacífico, também estarão na pauta.

Com três encontros presidenciais em apenas dois anos, a relação entre Brasil e China avança de forma concreta, com investimentos chineses em infraestrutura se tornando cada vez mais próximos da realidade. Estradas, ferrovias, portos e aeroportos estão no radar do país asiático, com anúncios esperados já nos próximos meses.

Desde a visita do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil em 2024 — ocasião em que mais de 40 acordos foram assinados —, investidores chineses têm analisado oportunidades em obras de infraestrutura brasileiras. Segundo o ministro dos Transportes, Renan Filho, a expectativa agora é que a China defina os projetos nos quais pretende investir prioritariamente. Alguns desses anúncios podem ocorrer ainda nesta semana, durante a nova visita de Lula a Pequim.

“Vamos assinar projetos com sinergia rodoviária e ferroviária que possam ampliar exportações para a China, especialmente no setor do agronegócio e de minérios”, afirmou Renan Filho. Ele ressaltou que, embora os chineses possam inicialmente indicar apenas áreas de interesse, o apetite por investimentos é claro.

Projetos em avaliação
Entre os empreendimentos que despertam o interesse chinês estão:

  • A ferrovia de escoamento de commodities de Açailândia (MA) ao porto de Barcarena (PA);
  • O anel ferroviário do Sudeste, ligando Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo;
  • Conexões ferroviárias com os portos de Santos e Açu;
  • Integrações Centro-Oeste e Leste-Oeste;
  • A interligação com o porto de Chancay, no Peru, já construído pelos chineses.

“É uma carteira de projetos que já apresentamos outras vezes, mas agora eles demonstram muito mais disposição em participar”, disse o ministro.

A ministra Simone Tebet também destacou o avanço das conversas, revelando que Brasil e China discutem uma rota terrestre ligando os oceanos Atlântico e Pacífico, conectando o porto peruano de Chancay ao litoral da Bahia.

Essas negociações se intensificaram após o acordo assinado em 2024 entre os dois países, durante a visita de Xi a Brasília, que estabeleceu parcerias em quatro áreas estratégicas: Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Rotas de Integração, Nova Indústria Brasil e Plano de Transição Ecológica.

Apesar de o Brasil ter optado por não aderir à Nova Rota da Seda — iniciativa global de investimentos chineses em infraestrutura —, o entendimento bilateral avançou com foco em “sinergias” específicas de interesse mútuo. Segundo fontes diplomáticas, a atual visita de Lula a Pequim deve marcar o início da execução desses planos.

Estão prontos para assinatura 16 novos acordos bilaterais, e outros 32 seguem em negociação, elevando o peso político e econômico desta terceira visita oficial entre os presidentes Lula e Xi.

Interesse crescente e ambiente mais favorável
Entre 2007 e 2023, a China investiu cerca de US$ 73,7 bilhões no Brasil, distribuídos em 264 projetos — a maioria no setor de energia. Só em 2023, o investimento foi de US$ 1,73 bilhão, um aumento de 33% em relação ao ano anterior, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

Túlio Cariello, diretor de pesquisa do CEBC, afirma que o setor elétrico ainda concentra a maior parte dos recursos chineses, mas vê grande potencial nas ferrovias. “Há interesse chinês, e o Brasil tem como atrair esses investimentos”, afirmou. Ele aponta que, embora a burocracia e os custos tenham travado projetos no passado, o cenário atual é mais promissor, com maior familiaridade das empresas chinesas com o mercado brasileiro.

O ministro Renan Filho concorda: “A boa relação entre os presidentes Lula e Xi facilitou a construção de uma agenda concreta de cooperação, mesmo sem a adesão à Rota da Seda”.

Tebet: “China quer rasgar o Brasil com ferrovias”
A ministra Simone Tebet reforçou esse movimento ao dizer que a China quer “rasgar o Brasil com ferrovias”. Segundo ela, o próprio Xi Jinping demonstrou esse interesse durante reunião com Lula, ainda no início do atual governo.

“Desde o primeiro mês de governo estamos tratando disso com a China. Eles estão muito interessados nas ferrovias. Mas sabemos que é um investimento caro e não há recursos públicos suficientes. Precisamos de fundos internacionais”, afirmou Tebet em entrevista à Carta Capital.

Fontes: CNN e Investimentos e Notícias.