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Mais de 50 associações, empresas e instituições acadêmicas apresentaram ao governo federal, nesta segunda-feira (12), um plano com 90 ações para reduzir em até 68% as emissões de gases de efeito estufa no setor de transportes até 2050. A proposta foi divulgada durante a 5ª edição do Ciclo de Seminários Brasil Rumo à COP30, realizado pela Editora Globo em Brasília, em parceria com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), Serviço Social do Transporte (SEST), Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT), e o Instituto de Transportes e Logísticas (ITL).

Batizada de Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, a iniciativa também estima que o plano pode atrair mais de R$ 600 bilhões em investimentos verdes ao país. Atualmente, o setor de transportes responde por cerca de 11% das emissões nacionais, o equivalente a 260 milhões de toneladas de CO₂ por ano. A redução proposta equivale ao plantio de quase 6 bilhões de árvores ou à retirada de circulação de 26,7 milhões de carros de passeio.

O estudo foi encomendado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, com o objetivo de subsidiar o novo Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que será apresentado na conferência da ONU, em Belém, em novembro.

“O documento mostra de forma clara o compromisso do Brasil e propõe caminhos concretos para a transição. É também um instrumento de política externa, pois demonstra que o país tem respostas e quer se aproximar do mundo com seriedade climática”, afirmou o embaixador.

A CEO da COP30, Ana Toni, reforçou o valor estratégico do plano: “Esse estudo casa a política pública com a política internacional. Mostra que o Brasil quer e precisa de financiamento climático, e isso não é motivo de vergonha — é saber o que se quer. O plano aponta o país que queremos construir”, disse.

O plano se organiza em três eixos para a descarbonização:

1. Eletrificação da frota
A proposta prevê que 50% dos carros de passeio sejam elétricos até 2050, além da inclusão de 300 mil ônibus elétricos. A estimativa é que essa transição possa reduzir 145 milhões de toneladas de emissões. Para isso, seria necessário um investimento de R$ 40 bilhões na instalação de até 1,9 milhão de pontos de recarga para veículos.

2. Rebalanceamento da matriz de transporte
O plano propõe elevar a participação dos modais ferroviário e hidroviário de 31% para 55% no transporte de cargas, com potencial de evitar 65 milhões de toneladas de emissões. Para isso, seriam necessários investimentos de R$ 270 bilhões na ampliação da malha ferroviária e adoção de novas tecnologias. A participação do modal ferroviário, por exemplo, poderia dobrar dos atuais 16% para 32%.

3. Ampliação do uso de biocombustíveis
O uso de etanol, biodiesel, diesel verde, biometano, SAF (Sustainable Aviation Fuel) e combustíveis sintéticos é apontado como alternativa viável, especialmente para veículos pesados e no transporte aéreo. A estimativa é que a adoção desses combustíveis possa evitar mais 45 milhões de toneladas de emissões. A demanda por biocombustíveis deve crescer de 30 bilhões para 55 bilhões de litros ao ano até 2050, atraindo até R$ 225 bilhões em investimentos.

Foco nas cidades

O plano também apresenta medidas para a descarbonização do meio urbano, responsável por 45% das emissões do setor. Entre as ações propostas estão a ampliação do transporte coletivo, integração tarifária, incentivo ao uso de bicicletas, criação de zonas de baixa emissão e eletrificação das frotas urbanas.

A coalizão é liderada pela Motiva (novo nome do Grupo CCR), pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pelo Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável (Insper), com apoio de entidades dos modais rodoviário, ferroviário, aéreo, hidroviário e de mobilidade urbana.

Setor portuário

Também durante o evento, o vice-presidente do Instituto Brasil Logística (IBL) e diretor da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Jesualdo da Silva, participou do segundo painel e destacou os desafios e avanços do setor diante do novo marco regulatório proposto pelo Projeto de Lei 733/2025.

Questionado pela jornalista Miriam Leitão, que mediou o seminário, sobre a capacidade do PL de atrair investimentos, Jesualdo afirmou: “O setor portuário também está fazendo a sua parte”. Ele ressaltou que, embora a maior parte da movimentação de cargas aconteça dentro dos terminais, o setor já investe em sustentabilidade — com terminais se declarando “carbono zero” e apostando em infraestrutura limpa.

Segundo ele, o projeto traz avanços importantes ao estabelecer a obrigatoriedade de inovação e sustentabilidade no planejamento e na expansão dos portos. “Isso força todos os agentes do setor a incluírem essas práticas de forma permanente, pois agora estarão previstas em lei”, explicou.

Jesualdo também observou que os investimentos no setor são majoritariamente privados e que a adoção de equipamentos sustentáveis, como os elétricos, tem custos elevados. “Um equipamento elétrico pode custar mais de três vezes o valor de um similar a diesel, e seu desempenho ainda é limitado”, exemplificou.

Para mitigar esse impacto, o PL prevê a prorrogação dos contratos portuários por até 70 anos, o que proporcionaria previsibilidade e viabilidade para absorver os custos da transição energética. “Esse projeto dá segurança jurídica, porque muitos comandos que hoje estão em normas infralegais passam a ser previstos em lei, oferecendo estabilidade e confiança aos investidores”, completou.

O conselheiro do IBL e presidente-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (ABTRA), Angelino Caputo, também esteve presente – acompanhando o seminário.

Você pode assistir 5ª edição do Ciclo de Seminários Brasil Rumo à COP 30, clique aqui.

Fonte: com informação de O Globo.