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O setor de transportes brasileiro tem uma meta para 2050: reduzir em 70% as emissões de CO₂ previstas para o segmento. A proposta foi apresentada pela Coalizão para a Descarbonização dos Transportes à presidência da COP30 e aos ministérios dos Transportes e de Portos e Aeroportos, durante o seminário Brasil Rumo à COP30, realizado em Brasília na última segunda (12).

O documento reúne 90 ações estratégicas voltadas à redução de emissões em toda a cadeia da mobilidade e busca colaborar com a formulação do novo Plano Nacional sobre Mudança do Clima. A iniciativa é liderada por entidades de peso como o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), Motiva, Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper, com apoio de mais de 50 instituições, empresas e associações ligadas ao setor.

Desafio crescente

O setor de transportes responde hoje por cerca de 11% das emissões de CO₂e  no país – sendo mais de 90% provenientes do modal rodoviário. Sem ação efetiva, estima-se que essas emissões possam crescer 63% até 2050, atingindo 424 milhões de toneladas. Apesar disso, o Brasil ainda estaria abaixo de países como EUA e França em termos per capita. A meta da coalizão é reverter essa tendência e posicionar o país como líder global em soluções de descarbonização.

Três frentes prioritárias concentram 60% do potencial de corte de emissões:

1. Transição da matriz de transporte para modais mais limpos

•           Aumento da participação do transporte ferroviário de cargas de 16% para 33%, com necessidade de investimentos superiores a R$ 270 bilhões;

•           Expansão do modal aquaviário de 15% para 22%, também na movimentação de cargas;

•           Redução do modal rodoviário de 70% para 45%, contribuindo com uma possível economia de 65 Mt CO₂e.

2. Expansão do uso de biocombustíveis

•           Substituição de combustíveis fósseis por opções limpas, como diesel verde e SAF;

•           Demanda adicional de 25 bilhões de litros até 2050, exigindo cerca de R$ 225 bilhões em investimentos;

•           Redução potencial de 45 Mt CO₂e.

3. Eletrificação e uso de tecnologias Power-to-X

•           Eletrificação da frota leve, aproveitando a matriz energética limpa do Brasil;

•           Investimentos estimados em R$ 40 bilhões apenas em infraestrutura de recarga;

•           Redução de até 145 Mt CO₂e, sendo 70 Mt apenas com eletrificação de veículos leves;

•           Aplicação do hidrogênio de baixo carbono em setores de difícil descarbonização, como o transporte aquaviário.

Outras alavancas de curto prazo

O plano também destaca ações de rápida implementação e com alto impacto, como:

•           Expansão e integração do transporte coletivo nas cidades;

•           Renovação de frotas e melhoria da infraestrutura em todos os modais;

•           Investimentos em eficiência operacional nos setores ferroviário, portuário e aeroportuário.

Habilitadores regulatórios e financeiros

Para viabilizar a transição, o documento aponta a importância de marcos legais e políticas públicas como:

•           Marco Legal das Ferrovias, para atrair investimentos privados;

•           Lei do Combustível do Futuro, que estimula o uso de biocombustíveis;

•           Programa Refrota, que prevê a aquisição de mais de 2 mil ônibus elétricos.

O caminho até 2050

Com a implementação das ações propostas, estima-se a redução de até 290 Mt CO₂e – o equivalente a 110% das emissões atuais do setor – mesmo com o crescimento projetado da demanda de transportes. Em 2050, o cenário ideal prevê:

•           Mais de 55% da carga transportada por modais menos emissores;

•           Crescimento de 75% na utilização de biocombustíveis;

•           40% da frota eletrificada;

•           E investimentos públicos e privados sustentando a transformação da logística nacional.

A descarbonização do transporte é apontada como um pilar estratégico para o desenvolvimento sustentável do país, com impactos diretos não apenas na agenda climática, mas também na competitividade, na mobilidade urbana e na qualidade de vida da população brasileira.

Clique aqui para acessar o documento.

Fontes: com informações do Valor Econômico e do estudo completo ‘Coalizão dos Transportes, como tornar o setor de transportes um contribuidor ativo para a redução das emissões brasileiras’.