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Artigo de Carley Welter, diretor de Relações Institucionais da ANATC e conselheiro do Instituto Brasil Logística (IBL).

Em um momento em que a tensão comercial entre Estados Unidos e China abre espaço para o Brasil ampliar sua presença no mercado internacional de commodities, gargalos logísticos históricos podem impedir o país de assumir o protagonismo global nas exportações agrícolas.

A Associação Nacional das Empresas de Transporte de Cargas (ANATC) aponta problemas estruturais graves em estradas e portos como obstáculos à competitividade brasileira.

O país apresenta capacidade produtiva elevada e enfrenta uma demanda internacional crescente, mas ainda não consegue transformar esse potencial em protagonismo absoluto no cenário global.

Isso se deve, segundo a ANATC, a estrangulamentos logísticos como estradas precárias, portos saturados e à baixa eficiência na descarga dos caminhões, fatores que comprometem a competitividade da produção nacional.

Cerca de 84% das cargas do agronegócio brasileiro são transportadas por caminhões. Por isso, a fluidez nas estradas e nos portos é considerada essencial para garantir produtividade e reduzir custos.

Um dos principais pontos de estrangulamento hoje está na BR-163, no Pará, onde um trecho de apenas cinco quilômetros sem asfalto tem causado longas retenções e filas de caminhões rumo ao Porto de Miritituba, no município de Itaituba.

Esse distrito é um ponto-chave na rota da soja que liga o norte de Mato Grosso ao Rio Tapajós. Em 2024, aproximadamente 15 milhões de toneladas de grãos passaram pelos terminais da região. A expectativa para o ano é atingir a capacidade máxima de movimentação, de 18 milhões de toneladas.

A ANATC alerta que, sem o asfaltamento do trecho crítico, o escoamento de toda a produção corre risco. Isso geraria um custo adicional estimado em R$ 200 por tonelada e poderia causar sobrecarga nos demais portos do país, que já operam próximos de seu limite.

Além de Miritituba, outros pontos de escoamento também enfrentam dificuldades operacionais, como os terminais de Rondonópolis (MT), Porto Velho (RO), Itaqui (MA), Barcarena (PA), Santos (SP), São Francisco do Sul (SC), Imbituba (SC) e Rio Grande (RS).

O problema é agravado pelo aumento na demanda por exportações e pela lentidão na execução das obras previstas em contratos de concessão.

A BR-163 está sob responsabilidade da Via Brasil, empresa vencedora do leilão de concessão realizado em julho de 2021, dentro do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), uma iniciativa do governo federal para modernizar a infraestrutura nacional com apoio do setor privado.

A pavimentação do trecho sem asfalto consta no contrato, mas ainda não foi concluída.

A ANATC destaca que o momento é crítico. O país opera com portos em atividade contínua, 24 horas por dia. Em situações como a falta de pavimentação, os caminhões acabam retidos por até três dias e se tornam espaços improvisados de armazenamento.

Esse cenário compromete não só o escoamento imediato da safra, mas também a imagem do Brasil como fornecedor confiável no mercado internacional.

Diante do possível agravamento da guerra comercial entre Estados Unidos e China, o Brasil poderia se consolidar como principal fornecedor de grãos para o país asiático. No entanto, essa oportunidade depende diretamente da capacidade nacional de entregar o que produz com eficiência e confiabilidade.

Fica, aqui, nosso alerta!!

Carley Welter, Institucional da Associação ANATC