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Pandemia deve aprofundar ainda mais a crise na produção e na logística mundial, avaliam estudiosos

Para analistas, problemas nas cadeias de abastecimento vão perdurar por 2022. A evolução na vacinação mundial contra a covid-19 é crucial para aumentar a perspectiva de crescimento da economia.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou em um novo levantamento que as carências nas cadeias globais de abastecimento aumentaram nas últimas semanas e podem piorar, antes de melhorar. Analistas da organização constataram que as encomendas de mercadorias estão aumentando, enquanto os estoques continuam caindo em todo o mundo.

Em julho, o comércio mundial caiu 0,9% em volume comparado a junho, quando tinha registrado alta de 0,7%. O pico da escassez de alguns produtos importantes para a atividade industrial do planeta – como os semicondutores – deve ocorrer neste terceiro trimestre. Os dados foram compilados pelo CPB, centro de pesquisa económica da Holanda.

O mercado financeiro europeu também está atento às possíveis falhas de abastecimento. O banco suíço UBS disse em nota a clientes que esses problemas devem se prolongar em 2022, já que levará algum tempo para expandir a infraestrutura logística e capacitar mão de obra adicional. As companhias que atuam nas áreas química, de bens de capital e transportes são as que mais estão em risco, aponta o banco.

A pandemia de covid-19 fez a demanda mundial por bens e serviços despencar de maneira abrupta e repentina no ano passado: pessoas cortaram seus consumos diários e obrigaram empresas a reduzir bastante suas produções. As políticas de estímulo adotadas por governos de todo o planeta permitiram que a demanda fosse logo retomada, mas as empresas não relançaram a produção no mesmo ritmo, até porque vários países com campanhas de vacinação mais modestas ainda enfrentam severas restrições de mobilidade.

Países como Japão, Coreia do Sul e Chile brecaram suas atividades industriais por causa da variante delta; no Vietnã, as exportações de calçados desabaram 40% em meados de de agosto, comparadas ao mesmo período do ano passado. Produtores de têxteis, móveis e alimentos também têm sido afetados.

A indústria automobilística também sentiu o baque: as montadoras Nissan, Toyota, Ford e General Motors tiveram que cortar a produção devido à falta de chips. Apenas em setembro, a Toyota estima uma redução de 40% na produção.

Segundo a OCDE, a retomada da demanda mundial aliada às dificuldades na oferta e à diminuição de estoques provocaram aumentos de preços de matérias-primas e de custos do transporte marítimo no mundo inteiro – em particular na América do Norte e na Europa.

Para se ter uma ideia, os preços mundiais de matérias-primas em julho e agosto de 2021 superaram em 55% as cotações de um ano atrás. Os custos de transporte de contêineres também triplicaram em um ano. Os navios são utilizados hoje quase a plena capacidade, e continua faltando contêineres. ‘’Enviar um contêiner da China para a Costa Leste dos EUA custava menos de US$ 3 mil antes e agora sai por mais de US$ 20 mil’’, revela o economista-chefe da OCDE, Laurence Boone.

Os protocolos de distanciamento físico, os fechamentos temporários e reforços de normas de higiene para combater a pandemia estão atrasando os serviços nos portos no mundo. Em setembro, os portos da Califórnia registraram um número recorde de 61 navios ancorados – todos à espera de embarque ou desembarque de mercadorias.

As companhias eram capazes de compensar a alta de custos com mais produtividade e alta nos preços dos produtos antes da pandemia, segundo o banco suíço UBS. No entanto, à medida que faltam insumos suficientes para produzir as mercadorias e meios para levá-las para o consumidor, há limites para fazer essa compensação.

A expectativa de vários analistas, incluindo na OCDE, é que as interrupções nas cadeias de abastecimento não constituem ainda uma ameaça grave à recuperação económica global. Haverá moderação do crescimento no ano que vem, mas dentro das expectativas. A evolução das campanhas de vacinação e do controle de novas variantes que podem aparecer são cruciais para aumentar a perspectiva de crescimento da economia.

O Brasil vive um momento decisivo. A Frenlogi trabalhou desde o início da pandemia para garantir mais recursos a todos os modais brasileiros e proporcionar segurança a quem produz e transporta. O levantamento da OCDE reforça a necessidade do país na busca por uma logística mais eficiente, econômica e dinâmica.

Não houve crise de abastecimento no mercado consumidor brasileiro, mas o país enfrenta altos índices de inflação. E esse cenário se aprofundou ainda mais nos últimos meses, com os recorrentes aumentos de preços nos combustíveis e na energia elétrica. E as principais formas do Brasil superar esses problemas é diversificando a nossa matriz energética e aumentando a oferta de opções logísticas. A Frente está atenta aos desafios atuais e futuros do comércio global, e trabalha junto ao Governo Federal e à iniciativa privada para encontrar soluções.


Fonte: Valor Econômico