Participação do setor público na indústria da construção caiu 11,1 pontos percentuais, passando de 41,4% em 2010 para 30,3% em 2019.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a indústria da construção teve perda de participação entre 2010 e 2019 nas obras de infraestrutura. A porcentagem do valor gerado pelo setor caiu de 44,1% para 32,2%.
Já a construção de edifícios avançou de 39,1% para 44,2% no período. E a maior alta foi em serviços especializados para construção: de 16,8% para 23,6%. As informações foram publicadas na Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC).
Em 2019, o setor de Construção de Edifícios contribuiu com R$ 127,3 bilhões em valor de incorporações, obras ou serviços. Já o setor de Obras de Infraestrutura capitalizou R$ 92,8 bilhões, enquanto a área de Serviços Especializados para Construção contribuiu com R$ 67,9 bilhões.
“Os serviços especializados para construção são contratados pelas grandes empresas de obras a exemplo de demolição e preparação do terreno, instalações elétricas e hidráulicas, pintura e obras de acabamento. Isso demonstra uma mudança estrutural com redução da verticalização das grandes construtoras e maior especialização”, explica o analista da pesquisa, Marcelo Miranda.
Já a participação do poder público na indústria da construção caiu de 41,4% em 2010 para 30,3% em 2019, índice que reflete uma gradual redução do orçamento estatal na área. O segmento de obras de infraestrutura – que sempre contou com participação significativa do setor público – teve a queda mais forte. A redução foi de 8,4 pontos percentuais, passando de 59,7% para 51,3%, no período. Já a participação do segmento de construção de edifícios recuou de 26,9% para 20,5%, enquanto a dos serviços especializados para construção caiu 6,5 pontos percentuais, de 24,4% para 17,9%.
Por outro lado, o setor privado respondeu pela contratação de 69,7% do valor de obras e serviços da construção em 2019. A maior distância entre as participações dos setores público e privado ocorreu em serviços especializados para construção (82,1% privada contra 17,9% pública), seguido por construção de edifícios, com 79,5% do valor de obras contratados pelo setor privado e 20,5% pelo setor público, em 2019.
Um dos possíveis reflexos da redução gradual dos investimentos em infraestrutura nos últimos 10 anos está na perda de postos de trabalho. As empresas da construção empregavam um total de 1.903.715 de pessoas ao fim de 2019, contingente 22,5% menor do que em 2010 (2.457.809). Nesse período, o setor perdeu cerca de 554,1 mil postos de trabalho.
O auge da ocupação no setor ocorreu em 2013, com cerca de 2,968 milhões de trabalhadores. Desse momento até 2019, a perda de empregos na área chegou a 35,9% (ou menos 1,1 milhão). A queda foi mais intensa nos segmentos de Construção de Edifícios (33,5%, ou menos 334.422 postos) e no de Obras de Infraestrutura (32,3% ou 269.720 postos de trabalho a menos) desde 2010.
O setor que registrou desempenho positivo foi o de Serviços Especializados para Construção. A ocupação cresceu 8%, passando de 622,726 mil para 672,774 mil vagas, entre 2010 e 2019.
Entre 2018 e 2019, a indústria da construção ganhou 32.472 postos de trabalho, primeira alta desde 2014. As expansões se deram em Serviços especializados para a construção (9,5%, ou 58.489 postos a mais) e em Obras de infraestrutura (3,1% ou mais 17.226 postos de trabalho). Entretanto, a área de construção de edifícios puxou o índice de pessoas empregadas para baixo, com a perda de 43.243 vagas.
Em 10 anos, serviços especializados para construção tornou-se a atividade com a maior parcela (35,3%) da população ocupada na indústria da construção, ficando à frente da Construção de edifícios (34,9%) e Obras de infraestrutura (29,8%).
“Depois de muitos anos de queda, o número de pessoas ocupadas cresceu 1,7% e o valor de salários subiu 2,7%. Essa recuperação é impulsionada pelo segmento de serviços especializados para construção, que cresceu 8,2% em salários pagos e 9,5% em pessoal ocupado. Esse ganho ameniza a perda de 13,6% no período de queda constante de 2014 a 2019. O segmento também ultrapassou, em 2019, a atividade de construção de edifícios como a que mais emprega na indústria da construção, com 35,3% do total de ocupados, ante 34,9% da construção de edifícios”, relata o analista Marcelo Miranda.
A pesquisa traz informações sobre as remunerações pagas aos trabalhadores do setor. De 2010 a 2019, o valor médio pago pela indústria da construção oscilou entre 2,6 e 2,3 salários mínimos. O segmento de obras de infraestrutura mostrou a remuneração média mais elevada e a maior variação salarial, entre 3,5 e 2,8 salários mínimos mensais nos 10 anos analisados. Já os segmentos de construção de edifícios e o de serviços especializados para construção pagaram, em média, 2,1 salários mínimos em 2019, mantendo esse patamar ao longo dos 10 anos.
Além da quantidade de trabalhadores e salários pagos na área, a pesquisa conduzida pelo IBGE também aborda a quantidade de empresas em atuação no setor da construção civil. Esse número passou de 77.509 em 2010 para 125.067 em 2019 (crescimento de 61,4%). O auge da série histórica foi em 2015 (131.318 empresas); deste ano até 2019, cerca de 6,3 mil empresas do ramo da indústria da construção fecharam as portas (queda de 4,8%). O segmento que mais concentrou a abertura de novas empresas entre 2015 e 2019 foi o de Obras de infraestrutura, com expansão de 10,1% (1,2 mil empresas a mais).
O analista da pesquisa, Marcelo Miranda, destaca que houve diversas mudanças estruturais importantes na indústria da construção como redução no porte das empresas – de 32 pessoas em 2010 para de 15 pessoas em 2019 – e progressiva substituição do modelo de verticalização em grandes empresas para o de especialização em empresas de menor porte.
A Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) também levou em consideração a distribuição regional dessas empresas pelo Brasil. Nas instituições com 5 ou mais pessoas ocupadas, entre 2010 e 2019, a região Sudeste permaneceu liderando em participação (49,6%) no valor de incorporações, obras e serviços da construção. Já a região Sul (18,0%) ultrapassou o Nordeste (17,5%) e passou para a segunda posição no ranking. O Centro-Oeste (8,9%) e o Norte (6%) permaneceram na quarta e quinta posições, respectivamente.
O setor mostra progressiva desconcentração regional, com redução nas participações do Sudeste, Nordeste, Norte e do Centro-Oeste em favor da região Sul, cuja participação cresceu 5,5 pontos percentuais entre 2010 e 2019.
Cerca de 49,3% dos trabalhadores da construção estavam no Sudeste em 2019. Em 10 anos, o Nordeste foi a região com a retração mais intensa na sua participação de mão de obra (3%), reduzindo de 22,7% para 19,7%. Essa diminuição acompanha o movimento de redução na participação do valor gerado em obras no período. O Sul teve o maior avanço entre 2010 e 2019, com sua participação na ocupação do setor passando de 13,4% para 17,3%.
Outro ponto importante do levantamento realizado pelo IBGE demonstra que a concentração econômica na indústria de construção caiu pela metade entre 2010 e 2019, passando de 11,1% para 5,1%. Esta tendência foi mais evidente em obras de infraestrutura, no qual as oito maiores empresas concentravam 25,2% do valor de incorporações, obras e serviços da construção em 2010 e passou a concentrar 11,9% em 2019, redução de 13,3 pontos percentuais no período.
No setor de construção de edifícios, as oito maiores empresas concentraram 7,2% do valor gerado na construção em 2019, com redução de apenas 1,7% em 10 anos. O segmento de serviços especializados é o único em que ocorre o inverso: as oito maiores empresas tinham 6,5% do total da indústria no segmento e passaram a deter 7,5%.
“As grandes empresas de infraestrutura perderam espaço no setor. Em termos de contratação, vimos que o setor público também diminuiu bastante sua participação. Isso vem acompanhado da redução nas obras de infraestrutura, que são muito puxadas por gastos do governo, por serem de grande porte, risco elevado e requererem um volume maior de recursos em que muitas vezes o setor privado não tem ou capacidade ou interesse”, avalia Miranda.
A retração da participação da indústria de construção civil nas obras de infraestrutura acompanha a constante diminuição dos investimentos no setor. A Frenlogi trabalha no Congresso Nacional e junto ao Governo Federal para garantir mais recursos que ajudem a desenvolver a infraestrutura do Brasil.
Além de investir mais, é preciso investir melhor. A Frente prioriza projetos que modernizem a matriz energética, a cadeia de produção, os modais de transporte e o ambiente de negócios no país. A atividade da construção civil no país serve como termômetro da economia; para retomar a efervescência do setor, é essencial que o setor público propicie mais liberdade, recursos e eficiência às empresas e profissionais que atuam na área. Essa é uma das condicionantes para que o Brasil conquiste uma posição ainda mais destacada no mercado mundial.
Fonte: Portal G1